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Se fosse Morfeu

Então seria o caos, a completa imprevisibilidade dos fatos que ordenaria - posso dizer assim? - a forma como tudo ocorre. Qualquer explicação que a Física poderia prover seria inútil: a supremacia do casuísmo teria se tornado o motor dos fatos. A mim parece que esse grande globo terrestre tem suas motivações nos sentimentos, nas emoções e tudo que essa equação tem potencial de resultar. As guerras, as mortes, os nascimentos, as traições, a própria definição desses termos, tudo teria correlação intrínseca com a mágica que ocorre no corpo da nossa espécie quando o sentimento toma forma. Parece lógico pensar que o ego dos homens ocupa o espaço maior que seus corpos, esse espaço necessário para abrigar a expansão do eu é que acaba esbarrando em outros egos e o efeito em cadeia desse processo não poderia ser diferente do que uma pilha de argumentos que sempre pretendem justificar a nossa própria posição. De que maneira o herói salvaria o mundo? No silêncio do seu anonimato, cobrindo a face

Megera Polvilhada de Púrpura

  Ah! Se me tivessem ensinado escrever, brocardos assombrosos em curtas frases de poema disfarçadamente teria denunciado essa megera polvilhada de púrpura que de mim fez uma puta Entorpecida no brío da luxúria. Mas não! Deram poetas ao estudo tal como objetos de uso torpe Camões! que sequer me ensinaram Decassílabos fizeram dele uma obrigação Entediante e vazia da arte enclausurada. M ataram aos poucos o escritor que por sinal em mim havia, e fizeram bem eu diria Porque vejam que mesmo assim asfixiado vim tecendo essa teia de versos e contos que contam não menos que o abuso não mais que o abruto assalto do meu dom e da completa mudez da minha fala. Ficarei sóbrio, pra que eu lucidamente Des ça até o pé do córrego e descans e de minhas lembranças. Acentuarei minhas palavras erradas Ordenarei algumas linhas, ademais não saberei - nunca saberia, denunciar-te poeticamente.

UM eu NÓS

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V ou tentar explicar isso, e essa será a primeira vez. Estou sozinho agora, mas não é sempre assim. Estou vendo o mundo pela lente redonda dos meus óculos, mas nem sempre é assim. Na minha adolescência lembro ter lido um livro do Paulo Coelho, no qual ele dizia que podemos ter mais almas gêmeas. Na implosão da morte e na eclosão da vida, o fluxo espiritual - que podemos chamar de alma, pode se dividir e dar sopro a mais de um ser. Não por acaso encontramos pessoas com as quais estabelecemos uma conexão intensa. Às vezes, quando minha respiração está tranquila e consigo imergir em um ambiente mental disruptivo, eu sinto. Sensações no intervalo de uma música, acompanhadas com um bem estar e uma alegria, que eu tentaria descrever como simples, uma alegria simples. Confesso que minha pele arrepia e meu corpo muda e excede, o mundo está calmo e o tempo está adequado à minha vida. No intervalo de uma música não há dor, nem solidão, nem dúvida, nem dinheiro, nem fome, nem miopia, nem

O déspota solitário de Tallinn

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    Parte I - Cenários ocasionais e apresentações indispensáveis.   Completou a última tragada e comeu o filtro. Comeu. Enquanto mastigava sentia o gosto do fumo e os vestígios do papel incomodando na língua e colando nos cantos da boca. Cuspiu e continuou andando. Noite e chuva intermitente, andava calmo como se fosse uma manhã de sol, estava imparcial às observações dos transeuntes, às sensações, às cores, estava na parte de dentro do mundo, no salão reservado da dúvida. Não se importava com as formigas que morriam pisadas e com as garças que os aviões engoliam no céu, mas em respeito ao primeiro amor que teve, acreditava nas coisas que Chico Xavier havia dito sobre essa aventura programática das almas, acreditava na reencarnação atemporal dos seres, porque era inviável fazer fim aos seus múltiplos inícios. Tomei o carro e desci a ladeira em direção ao coffeeIN . Sou estranho aqui, assim como fui um estranho em todo lugar que estive, mas enquanto pego o café toda

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Uma caneta sem tinta É uma caneta. Sem tinta Não escreve Não rabisca ou pinta.

Historicamente Nú.

    Preciso falar outra língua pra funcionar os dois lados do meu cérebro. De certo que tenho algum benefício com esse feito, pelo menos pediria direito o croissant com milkshake . Então pego minhas malas cheias de compromissos e trato de preenchê-las com roupas de verão. A sunga ocupa pouco espaço,  mas o que importa é a passagem, o que importa é o lugar e há os que dizem ser importante a companhia, acho que vale ter uma grana frouxa e um destino inusitado e qualquer cenário é perfeito. Vamos conversar, a gente precisa casar pra não romper os ritos e expor a honra que os grilos prezam manter. Oh meu deus, será que até ateu casaria se estivesse apaixonado? Seria católico ou protestante de uma nova religião que é o amor, quem seria seu deus? Seria uma divindade feminina com cartões de crédito e novalginas? Já tirei todo peso inútil das malas e falta minha gravata de seda e dois outros itens para sobrevivência ilimitada: o silêncio e uma parada no tempo. Ouço vozes ou será o latido

Vou indo, Maria

Outra pausa. E ela continua a contar das crises no seu relacionamento embrionário natimorto, esperando que um pseudo médico pudesse entregar uma cura que nem mesmo a psicologia conjugal havia descoberto.  Uma coca zero e um bolo de doce de leite, diz. Para mim uma torta fria e um expresso pequeno. Uma pausa de uma garfada. E o que aconteceu que você me chamou hoje? Questiono logo já que não tenho predileção por problemas que não posso solucionar. Precisava conversar, precisava estar perto de um amigo. Ela havia ficado dois meses em Florianópolis e agora irrompeu a paz de meu casulo para contar seus desatinos, eu previa isso e já estava arrependido de ter vindo. Estou disposto a não ouvi-la, estou apto a dispor de sua ausência. Vou levantar e antes que a borra apareça no fundo da xícara, estarei na porta. Vou indo, Maria. Se ela não fosse dele também não seria minha, se ela não fosse uma pausa, seria uma consequência intensamente amigável.