Se fosse Morfeu

Então seria o caos, a completa imprevisibilidade dos fatos que ordenaria - posso dizer assim? - a forma como tudo ocorre. Qualquer explicação que a Física poderia prover seria inútil: a supremacia do casuísmo teria se tornado o motor dos fatos.

A mim parece que esse grande globo terrestre tem suas motivações nos sentimentos, nas emoções e tudo que essa equação tem potencial de resultar. As guerras, as mortes, os nascimentos, as traições, a própria definição desses termos, tudo teria correlação intrínseca com a mágica que ocorre no corpo da nossa espécie quando o sentimento toma forma.

Parece lógico pensar que o ego dos homens ocupa o espaço maior que seus corpos, esse espaço necessário para abrigar a expansão do eu é que acaba esbarrando em outros egos e o efeito em cadeia desse processo não poderia ser diferente do que uma pilha de argumentos que sempre pretendem justificar a nossa própria posição.

De que maneira o herói salvaria o mundo? No silêncio do seu anonimato, cobrindo a face com uma máscara de pano que não fosse obrigatoriedade da pandemia? Se sabidamente vidas já não são capazes de conter um conflito bélico, será que uma força inquestionável de imagem e ego não seria mais eficaz - até se tornar outro alvo?.

Parece que budicamente falando, uma prática regular profunda seria capaz de transformações maiores na humanidade, mas como entender uma dinâmica tão complexa do poder, que incluiria não menos do que a capacidade delegada de decidir sobre a vida dos indivíduos, sobre o que é ou não importante na sociedade? 

O silêncio que precede a explosão é tão avassalador quantos os gritos posteriores, mas aquele silêncio não seria o silêncio da explosão, se a explosão não ocorresse, afinal aquele silêncio é só silêncio, o silêncio de um teatro fechado, o silêncio dos bons e dos maus, o silêncio das 3:33 da madrugada "quando só os insones graves dão voltas na cama e fazem promessas ao deus da hipnose, filho da noite e irmão gêmeo de Tánatos, para que lhes acuda na aflição, derramando sobre suas pisadas pálpebras o suave bálsamo das dormideiras" - na literalidade de José Saramago, que convenhamos: antes tivesse citado Morfeu, que tomaria em sonho (pesadelo) toda a dor que o mundo sente, retribuindo no acordar matinal uma realidade mais doce e menos sombria que a vivida no hoje.



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